Laguna de Apoyo e Pueblos Blancos
9 de outubro de 2014 –
Entre Granada e Masaya se encontra a conhecida “Lagoa de Apoyo” e também vários povoados pitorescos conhecidos como “Pueblos Blancos” .
Saindo de Granada eram alguns quilômetros de subida e uma boa descida (que eu automaticamente já estava pensando como iríamos subi-la depois) até chegar na famosa lagoa.
Não tínhamos lugar para ficar, assim que logo começamos a buscar. E para nossa surpresa os preços eram bem acima do que esperávamos. No primeiro lugar,era 16 dólares cada em um quarto compartilhado e para acampar eram 10 dólares para cada um!! No way, seguimos adiante e achamos outro hostel que se chama Paradiso que nos fez um preço melhor, com um quarto privado e ainda com direito a caiaque livre para passear pela lagoa.
Em 1991, a Lagoa foi declarada reserva natural pelo Ministério do Ambiente e Recursos Naturais da Nicarágua, reforçando a importância e valorização da região.
A Lagoa de Apoyo se formou há uns três mil anos atrás, depois da explosão do vulcão Pré-Apoyo que deixou a atual cratera. Os indígenas da região fizeram petroglífos na lagoa em homenagem a seus deuses, e também foram encontrados cemitérios indígenas em zonas cercanas.
Depois que nos acomodamos já estava quase anoitecendo quando fomos banharmos nesta cratera vulcânica, e incrível…a água transparente com tom azulado e ainda por cima morna (de 27 a 30 graus)! Não queríamos sair dali. Ficamos até ficar noite.
A água é um pouco salobre, e por ser uma lagoa de origem vulcânica, ao chegar a água em seu nível máximo os gases que o vulcão ainda expulsa em certos lugares geram fontes de água termais naturais.
No outro dia resolvemos dar uma volta de caiaque para ver se encontrávamos estas água quentes. Daí vimos que a lagoa não era tão pequena quanto pensávamos, a cratera de seis quilômetros de diâmetro, nos fez penar! Mas que lugar…numa imensidão de bosque nos arredores, ao som dos macacos e pássaros chegamos até a outra ponta depois de mais de 1 hora remando. E o resultado? Nada de encontrarmos as águas termais, e na volta os braços já pediam arrego!!
Depois descobrimos que as água por onde passamos são super profundas, chegando a ter mais de 100 metros de profundidade.
A água era tão quentinha e com tanto minerais que resolvemos enforcar o banho de chuveiro gelado do hostel e fazer nossa higiene na lagoa mesmo (Quique até levou sabonete e xampu!).
Depois vimos que é bem comum ver mulheres campesinas da região repetindo o processo que faziam sua mães e avós : dentro da lagoa, com água até o joelho, em frente a uma pedra plana, sabão em suas mãos e a lavanderia das roupas estava feita! Tanto que até fizeram um monumento em homenagem a elas em uma cidade dos Pueblos Blancos.
Assim como ao cantautor uruguaio, de Artigas, Alan Gomez que fez uma canção sobre este mesmo tema chamada: “Mi mama, la pala y el río”.
No hostel havia um restaurante com comidas super deliciosas, mas não tão baratas. Na noite anterior tivemos o luxo de pedir massa ao pesto e um hambúrguer de lentilha para sair um pouco do nossos pratos típicos de cicloviajantes. Mas nessa noite, voltamos a por em uso nosso fogareiro e o infalível guiso de arroz do Quique.
Por nós ficaríamos tranquilamente uma semana neste lugar…a paz da laguna, a energia das águas, rodeados por natureza e a amabilidade dos funcionários nos deixaram muito a vontade em Apoyo. Mas por motivos financeiros era hora de seguir o rumo, e depois quando já não estávamos mais por lá nos inteiramos que podíamos acampar em outra parte da lagoa gratuitamente!!
A temida subida estava na nossa frente, não tínhamos outra opção se não encará-la. Não sei se foi psicológico ou físico, mas depois de uns 5 minutos de subida começou a me faltar ar e não conseguia mais pedalar. Pobre Quique pedalava na bici dele e voltava correndo para empurrar a minha, já que minhas forças já estavam quase zero.
Tentei continuar no pedal, mas desabei! Os dois suavam tanto, que estávamos encharcados! Nunca tinha me acontecido isso, era um lugar tão abafado e úmido, que me baixou a pressão, faltou ar e as pernas tremeram! Nocaute… E ainda por cima me assustei porque o Quique começou a dizer que estava com o coração muito acelerado!
Nessas horas veem os pensamentos: Por que não pegamos um ônibus? Vou colocar um motor na bicicleta para as subidas…Por que não para uma boa alma em camionete e nos leva até ao fim dessa subida? E não é que a essa boa alma apareceu!! Na verdade eram duas, dois trabalhadores da região subiram nossas bicis na camionete e nos levaram até a entrada da cidade de Catarina, Pueblos Blancos.
Em principio, pensei que se chamavam assim por alguma colonização europeia e por terem uma população de pele mais branca. Mas depois vimos que os Pueblos Blancos são assim conhecidos por suas casas de adobe com suas paredes pintadas de branco. E também como “Pueblos Brujos”, já que algumas pessoas ainda praticam como herança cultural a adivinhação, medicina natural e a feitiçaria. Sendo povoados famosos pelo seu rico folclore e suas célebres festas.
San Marco, Masatepe, Diria, Diriomo, San Juan de Oriente, Niquinohomo e Catarina são algumas das cidade que fazem parte desse “complexo”. Nosso recorrido passou somente pelas últimas três.
Chegando em Catarina já nos demos conta da fama da cidade pelas flores e pelo artesanato.
Por todo lado também víamos trabalhos de reciclagem de pneus e estátuas de gesso para jardins e parques.
Fomos em direção ao mirante de Catarina que tem vista da Lagoa de Apoyo, e por sorte não seguimos os conselhos de uma francesa que disse que nem valia a pena ir até lá, já que a vista não tinha nada demais.
Chegando no mirante de Catarina, não tínhamos ideia do que veríamos e quando de repente…uau ficamos sem palavras ao ver a imensidão da lagoa, o vulcão Mombacho, a cidade de Granada e ainda bem ao fundo o Lago Nicarágua.
Uma hora de descanso e apreciação e nos dirigimos a outro lugarzinho especial a uns quilômetros dali. Se chama Niquinohomo, uma cidade conhecida por ser o berço do grande herói nicaraguense Augusto C. Sandino vulgo “general de los pueblos libres”
Sandino foi um líder da resistência nicaraguense contra o exército da ocupação estadunidense na Nicarágua na primeira metade do século XX. Sua luta guerrilheira logrou que as tropas dos Estados Unidos saíssem do país, mas logo depois lhe custou sua vida.
Sem dúvidas que seu exemplo de liderança e luta pela independência e autodeterminação de seu povo fez com que Sandino fosse admirado não só pela população nicaraguense, como também por intelectuais latinos, como por exemplo Miguel Ángel Asturias (escritor guatemalteco, premio Nobel da Literatura em 1967) no qual compôs estas palavras em sua homenagem:
“Hablad en las plazas, en las
universidades, en todas partes,
de ese general de América,
que se llamó Augusto César Sandino
Usadlo contra el panamericanismo
del silencio y que resuenen nuevas voces
de juventudes alertas en las atalayas,
pues la lucha de Sandino continúa.”
Na praça de Niquinohomo, junto com a catedral está também um museu aberto da história de Sandino, com estátua, fotos e relatos do herói nacional.
E nossa última cidade dos Pueblos Blancos visitada foi San Juan de Oriente. Um pequeno povoado onde passamos umas horinhas conversando com os moradores locais e conhecendo um pouco da sua cultura.
San Juan de Oriente é um povoado de ascendência indígena e com muita história.
Em cada esquina via-se uma loja com muita variedade de cerâmica e esculturas mitológicas, sendo uma tentação não levar nada. Já que viajando em bicicleta, o máximo que podemos levar são nossas tralhas indispensáveis e muita história para contar.
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