28 de fevereiro de 2015

Cedinho deixamos La Mesilla e, como sempre em toda fronteira, rola um pouco de tensão. Ainda mais sabendo que o México é um país rígido no quesito fronteiriço.

Como toda cidade de fronteira, havia muito comércio e gente te oferecendo tudo que é coisa. Resolvemos ir direto ao ponto. Ir ao posto de controle e fazer os trâmites.

Foi um choque! Era uma fronteira como as de filme. Um portão grande e muitas grades ao redor. Para gente foi tranquila a saída de Guatemala, mas sabemos que a realidade para os locais não é a mesma.

Reforçados na segurança, com o aval dos Estados Unidos, a fronteira mexicana torna-se o primeiro grande obstáculo de quem quer tentar a vida na terra do tio Sam.

Evitamos a fronteira de Tapachula por saber que aí o controle migratório é mais acirrado por conta da “La Bestia”, que é uma rede de trens de mercadorias que os imigrantes centro-americanos utilizam para atravessar rapidamente o México e chegar aos Estados Unidos.

Deixamos o link de um documentário do diretor mexicano Pedro Ultreras sobre essa travessia dos imigrantes.

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Pedalamos alguns quilómetros, com uma certa tensão, até passar pela imigração mexicana. Com um interrogatório seco, ganhamos o visto para dois meses na terra abençoada por Guadalupe. E ao ver o selo estampado no passaporte descobrimos o nome oficial desta terra: Estados Unidos do México.

Na noite anterior, nos recomendaram passar a noite no camping dos Lagos de Colón, que estavam à 39 km da fronteira.

O caminho até nosso destino do dia era tranquilo, com pouco movimento e muitas plantações de milho em todo lado. Paramos em um povoado para fazer um rancho e levar para o camping. Se vê que não éramos os únicos com esta ideia.

Chegando ao Lago ficamos sabendo que além da atração principal que são as águas, este parque possui uma zona arqueológica chamada Lagartero.

Tínhamos uma hora para conhecer, pois às 17h já encerravam as visitas. Aceleramos a pedalada e alí estávamos.

Atravessamos todo parque até chegar no Lagartero, e pra nossa surpresa não tinha lugar para estacionar as bicis. Jogamos com a sorte e deixamos todos nossos pertences à vista e a aproveitar este restinho de tempo que tínhamos.

O primeiro que nos chamou a atenção foi o formato de algumas ruínas, pareciam que estavam derretendo-se.

Arqueólogos descobriram quatro pingentes de cobre pré-hispânicos no local, sendo peças com mais de 600 anos que têm o formato de uma cabeça de lagarto, confirmando o nome desse local maia; naquela época, ele deve ter feito alusão a esse réptil, um símbolo do submundo para essa antiga cultura.

Outro símbolo importante é a árvore Ceiba, ela representa o poder da vida, e conecta o inframundo, com a terra e o céu

Os lagos Colón são um belo lugar criado por um rio da Guatemala que, ao entrar em Chiapas, diminui a velocidade, se separa em vários braços e forma uma série de piscinas cristalinas com tons de azul esverdeado. Piscinas interligadas por canais, riachos e cachoeiras emolduradas por grandes árvores: ceibas, chicozapotes, matapalos e palmeiras.

De verdade, fomos surpreendidos por esta beleza e simplicidade deste parque.

Logo encontramos nosso cantinho estratégico para acampar, perto da churrasqueira (para esquentar água) e ao lado do rio, no qual, nos proporcionou um banho purificador!

Encontramos alguns poucos estrangeiros, pois é um lugar em que a maioria dos visitantes são locais. No dia seguinte, fomos visitar uma pequena cachoeira e no caminho vimos um homem com uma mirada estranha. Dava a impressão que nos seguia, por isso resolvemos usar a experiência de estrada e diminuir o passo. Logo, se acercou e miramos bem no olho dele, que seguiu indiferente. O jeito foi escolher um lugar onde tinha bastante gente e desencanar.

Ardemio, um senhor que vivia por perto nos comentava que Chiapas é um lugar tranquilo, principalmente para estrangeiros. Ao ver que nossa janta seria tomate, abacate e peras foi logo nos dando tortillas de maiz para dar uma incrementada na nossa refeição.

No dia seguinte, encontramos um restaurante bastante econômico em Cristovão Colón (povoado que dá o nome ao parque) para nos abastecer e seguir a viagem.  Conhecemos um jovem, que nos contava que nunca tinha saído do México, nem a Guatemala que ficava a poucos quilômetros dali tinha ido. Estava esperando para seguir os passos de seu pai, que há alguns anos tinha chegado aos Estados Unidos, depois de uma travessia cheia de perigos.

Antes de partir, começamos a fazer contato através do Couchsurfing, e a boa notícia é que para Comitán de Dominguez, nosso próximo destino, tínhamos alojamento!

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