22 de setembro de 2014 –
Rápida passada pela cidade de Rivas, e já estávamos no povoado de San Jorge, porto de onde saem os ferries e barcos para a Ilha de Ometepe.
O lago Nicarágua ou Cocibolca, chamado pelos espanholes quando chegaram por aqui de “el mar de agua dulce” pela sua imensidade, possui em seu centro a Isla de Ometepe cujo nome em nahuatl significa “dois cerros”. Esta ilha de 276 quilômetros quadrados alberga a dois vulcões unidos por um curto cismo, no qual percorreríamos em bicicleta pelos próximos dias.
Para embarcar até a ilha escolhemos a opção do barco (cerca de 4 dólares cada na entrada do porto, passagem e mais o transporte das bicicletas), já era um pouco tarde e certamente chegaríamos a noite no vilarejo de Moyogalpa.
Pelo menos tivemos o privilegio de apreciar um por do sol em pleno lago, de um lado o sol laranja indo-se e de outro os dois gigantes nos esperando.
No barco conhecemos um morador da ilha, Arington , professor de matemática que tinha ido a cidade fazer algumas compras. Através dele conhecemos um pouco da história de Ometepe, lendas e personagens, dentre estes o historiador chamado Hamilton Silva, que depois fomos procurá-lo em sua casa em Altagracia, um povoado da ilha
Por ele soubemos da insatisfação da população da ilha com a construção do Canal da Nicarágua (obra gigantesca com projeto de chineses para abrir um canal que una o oceano Pacífico ao Atlântico, como o canal panamenho), não só pelo fator ambiental no qual afetaria toda flora e fauna da região e também pela desvalorização de suas terras no caso de expropriação.
Também nos contou que ele não está de acordo com o governo atual do presidente Daniel Ortega, do FSLN (Frente Sandinista de Liberación Nacional). Por exemplo nas eleições ,diz ele, fazem o chamado “o rato louco”: os que são da oposição quando chegam no local de votação, são encaminhados a outra ponta da cidade, muitas vezes não chegando a tempo.
Já era noite quando chegamos na porta de entrada principal da ilha : o porto de Moyogalpa (nome de origem nahuatl que significa “lugar de mosquitos”), um lugar bem simples onde os moradores da ilha esperavam também por mercadorias vindas da cidade de Rivas.
Encontramos um hostel familiar e aí passamos a noite. No dia seguinte era o meu dia, 29 primaveras, e como presente da Keshley filha da dona do hostel, levou seu gato de estimação para dormir um pouco comigo. A relação dela com Lalito (gato) era impressionante, era o dia todo pra cima e pra baixo juntos, inclusive na hora de andar de bicicleta.
Só por que era aniversário, não tinha que ser diferente, dia de pedalar! Tínhamos que cruzar quase toda ilha (inclusive e literalmente pelo aeroporto).
Até chegar ao outro lado, no povoado de Bague onde ficaríamos os próximos dias em uma “finca ecológica” chamada Zopilote.
Um lugar muito bonito, mas nada prático para cicloviajantes como nós, já que o acesso até a finca era cheio de pedras, subidas e descidas em caminhos estreitos e escorregadios.
Toda finca com um sistema pensado em reciclagem e reutilização dos recursos naturais: banheiros ecológicos, urinários, água das duchas para irrigar o pasto, reciclagem do lixo, energia solar, hortas orgânicas e produtos caseiros.
Além de muita natureza e animais da região, como o pássaro que estava em toda parte: o urraca.
Na primeira noite, como era um dia especial, ficamos numa cabana de madeira e palha, que para o lugar era um luxo só, que saia uns 15 dólares.
Mas depois nos outros dias já voltamos para nossa realidade de barraca e chão duro, por 4 dólares.
Nessa noite conhecemos a portuguesa Claudia, o sueco Eric e o espanhol Ruben. Na noite seguinte estavam resolvendo em qual dos vulcões eles iriam conhecer: o Concepción ou o Maderas. Cada um dizia uma coisa: um é mais alto mas não tem barro, o outro tem muita vegetação , já o outro pedras.
Como nós não tínhamos muita ideia de nada, resolvemos encarar junto com Eric e Claudia o vulcão Concepción no outro dia logo às 5h da manhã. E assim foi, meio litro de água cada, um abacaxi e um pedaço grande de pão com queijo (totalmente sem noção para o que significava subir um vulcão desse porte)
De manhã cedo esperávamos nosso guia Júlio para pegar um ônibus até a entrada do vulcão, quando começou a cair a chuva. Não tínhamos muita opção, esperamos um pouco mas logo já seguimos , já que a previsão de caminhada ida e volta era de 8 a 9 horas.
No começo todos muito empolgados, conversando e caminhando rápido, já que era plano e sem muitos obstáculos. Depois de 1 hora de caminhada, a primeira pausa. Aí percebemos que a coisa não seria tão simples assim. A chuva seguia e uma névoa nos acompanhava, juntamente com muitas pedras e locais que às vezes tínhamos que escalar para passar adiante.
Afinal eram 1610 metros do ativo vulcão Concepción, de pura subida! Sua última erupção foi em 1957, e seus moradores dizem que é comum a esporádica expulsão de gases ou movimentos de terra ocasionados por ele, mas não sentem pânico nem alarme.
Já íamos 3 horas de subida e nada do esperado cume, somente muita vegetação, caminhos fechados e nosso estoque de água já estavam nos últimos.
Depois de quase 5 horas, uma parada para comer, já que na cratera do vulcão não era aconselhado comer nada por conta dos gases que eram muito fortes. E para nossa sorte as nuvens estavam indo embora e a esperada vista de toda ilha estava aparecendo.
Mais 15 minutos de subida e aí estávamos no esperado topo do Concepción! A vista como podem imaginar, era espetacular. Chegamos acima das nuvens! E o mais impressionante é que a cratera estava a poucos centímetros, podíamos ver para dentro daquele gigante e só não ficávamos mais perto pelo fato do cheiro de enxofre ser sufocante.
Pausa para sentir o chão quente , descansar e desfrutar a vista.
Agora faltava só mais um detalhe, a volta. Geralmente sempre são mais fáceis, não neste caso. As pernas já não coordenavam nossos movimentos, cada descida de degrau era um sofrimento. Caiu a noite, e nós em pleno bosque escutando todos os sons possíveis de animais. A cabeça já estava lutando contra, junto com a sede, fome e cansaço. Exatamente 12 horas depois estávamos no mesmo local de partida, para nosso alívio!!
No caminho de volta para a finca era um mais faminto que o outro, sonhando o que ia pedir de comida: massa, arroz e feijão, pizza… E chegando, uma surpresa mais: como não tinha movimento, o restaurante resolveu fechar antes do horário. Resultado: juntamos tudo de comida que conseguimos e ficamos só nos desejos, tanto gastronômico como de um bom descanso. E com a certeza de que tão cedo não íamos nos aventurar numa dessas sem se preparar e investigar bem como é o caminho e tal. E o pior ainda estava por vir, esta brincadeira resultou 3 dias sem poder caminhar direito, dobrar a perna e nem se fala para descer escadas!
No outro día, um bom cafezinho ao estilo “tico” , com coador de pano.
Já que estava complicado para caminhar, optamos em voltar a bicicletear pela ilha. E desta vez o destino era a Cascata de San Ramón. No caminho, nos cruzamos com algumas crianças que saíram correndo atrás da gente gritando : gringosss!!!!
Mal informados fomos, e nos deparamos com uma estrada de terra em péssimo estado, fato que nos tardou muito e quando chegamos a entrada da cascata ficamos sabendo que para conhecê-la teríamos ainda mais 1h e meia de caminhada. Só de pensar que estaríamos de noite naquela estrada novamente, tivemos que dar meia volta e deixar para uma próxima oportunidade.
Um dia mais na ilha, e agora destinando-nos a Altagracia (original Astagalpa que em nahuatl significa “casa de garças”, e depois alterado por influências espanholas) em busca do historiador Hamilton Silva.
Onde nos inteiramos que podíamos encontra-lo era no Museu Pré-colombino da cidade, já que era o diretor deste, mas que infelizmente não estava no momento. Mas como todos o conhecem, rapidamente descobrimos onde vivia e fomos fazer uma visita.
Chegamos numa casa simples, com a porta aberta e com um senhor dormindo em uma rede. Era o Hamilton! Logo se acordou de golpe e em seguida nos recebeu cheio de entusiasmo para contar um pouco do muito que sabia sobre esta tão rica ilha. Contava-nos que em tempos pré-colombinos, tribos indígenas chegavam de vários lados da América em busca de um paraíso: uma terra formada por dois cerros . Assim a ilha de Ometepe se converteu em um santuário habitado por uma mistura de tribos e culturas, no qual é revelado pela enorme quantidade de petroglifos, cerâmica e estátuas que foram encontradas nesta zona.
Contava-nos também de suas experiências em viagens e de sua visão quanto ao turismo na ilha. Sobre o último, disse que era muito recente o turismo mas que calculava que dentro de pouco tempo Ometepe não será mais dos ometepinos, apenas serão empregados de estrangeiros que estão comprando as terras.
Depois de um tempo de conversa nos despedimos e adquirimos seu livro, escrito em 2008 que se chama “Ometepe encuentro de culturas”.
Fizemos nossa última volta por Altagracia e conhecemos Francisco, um morador da ilha que assim como nós, percorria seus trajetos em bicicleta e gostava de uma boa conversa.
Na volta para finca ainda tivemos uma parada rápida mas muito relaxante nas águas vulcânicas chamadas Ojos D’água, uma piscina com água composta de diversos minerais, ideal para relaxar nossas pernas e recarregar nossas baterias para regressarmos para Rivas no dia seguinte.
Agora era vez de despedirnos do Zopilote
Dessa vez não fomos até Moyogalpa para pegar o barco e sim na metade do caminho em San José del Sur, nos inteiramos que tinha uma ferry saindo, assim poupamos energias e chegamos mais cedo em Rivas, onde passaríamos a noite.
Nossa primeira e última experiência nos bombeiros nicaraguenses, fomos bem recebidos pelo tenente que nos deu um espaço no andar superior do edifício para colocarmos nossa barraca. Mas infelizmente o clima não muito amável dos funcionários e a falta de higiene não nos deixaram muito cômodos nesta noite.
No dia seguinte, ás 7 da manhã já era hora de partir e percorrer os 70 quilômetros que estava a cidade de Granada, nosso próximo destino na terra pinolera.
noviembre 25, 2014 at 11:39 pm
Otro relato que atrapa, cada frase y cada imágen va dejando más avidez para saber todo lo que están viviendo.
Preciosas vivencias y hermosas imágenes!!!
Luis y María
noviembre 26, 2014 at 4:52 pm
Gracias queridos! Muchas vezes dejamos de salir a conocer un lugar para escribir y editar un post, pero que bien que ustedes nos acompañan y viajan con nosotros! Besos con saudades
noviembre 25, 2014 at 11:42 pm
Muito linda a aventura de vocês!!…serão lembranças p\toda a vida! Que Deus sempre os acompanhe! Abraços.
Carlos vieira
noviembre 26, 2014 at 4:45 pm
Obrigada Seu Carlos!! Estamos aproveitando sim, muitas vezes não é fácil mas vale a pena pois são pessoas, culturas e lugares que não vamos esquecer! Beijos a todos por aí.
noviembre 26, 2014 at 12:06 am
Hola Mariana y Quique, buenísimo el ´relato y hermosas las fotos… acá disfrutamos sin tantos sacrificios pero seguramente estar ahí es una experiencia imborrable. Imaginé que después de subir al Morado en Chile, habían aprendido a ser mas previsores 🙂 :). Abrazo grande… saudades
noviembre 26, 2014 at 4:55 pm
Sim..a gente não toma jeito mesmo, depois de passar trabalho no Chile com frio, sem roupa apropriada e sem muita comida, fomos nós de novo como amadores!! Mas no outro vulcão que fomos aprendemos e levamos 4 litros de água…haha!!! Beijos
noviembre 29, 2014 at 6:43 pm
Hola, un fraternal saludo, que lindo que han disfrutado y absorbido lo grandioso de Nicaragua, que para mi es la gente, sus historias y luchas…
Mariana y Quique… UN GRAN ABRAZO!!!
noviembre 30, 2014 at 6:05 pm
Arriba Javi! La verdad que sí, fue my epecial para nosotros todo lo vivído en Nicaragua, en particular su gente que apesar de todas las dificultades que pasaron, son muy generosas y llenas de vida. Abrazo gde!
noviembre 30, 2014 at 8:34 pm
Una vez más, sufrí la subida y descenso del volcán con su sentido relato. Geniales las fotos!
Son unos valientes, mucho coraje. Quique… mejor no te hablo de Peñarol.. Hace días jugaron de vuelta un amistoso Uruguay y Costa Rica.. 2-2 lindo partido. Los ticos la tocan bien
Suárez ya se estrenó marcando con el Barça el otro día en Champions, contra el Apoel de Chipre. Ahora mismo está jugando, Valencia-Barça..
Abrazo
diciembre 1, 2014 at 4:40 am
Quedaron cortas las palabras para describir eso. Pasamos 4 días caminando como robots, pobres músculos de las piernas, a veces una de ellas perdía la fuerza y nos ibamos de lado ! je.
El primer gol de Suarez lo vi en un comedor de Santa Rosa, en El Salvador, junto a muchos hinchas (ya que aca son todos del barça o Real)
abrazooo
diciembre 2, 2014 at 10:09 pm
Hola chicos.le decía aMaria totalmente atrapante la aventura de uds.no podemos dejarlos.es hermoso lo que vivimos por su intermedio.cuantos contratiempos de nuevo pero como siempre .superados.siguen a buen ritmoya no se con que mas nos van a sorprender.es completo el relato.buen libro sale de ahí.duele el corazón pensar el esfuerzo y los sacrificios que pasan ante semejante audacia.Río celeste poesía para los ojos y un mimo para el alma!!ya sabemos de la historia.geografía.gastronomía.flora
. fauna..literatura porque escriben maravillosamente.fotografía!!!!¡ dignas del mayor de los premios.bueno es completo.abrazo grande y hasta pronto bs tia
diciembre 8, 2014 at 3:26 am
Muchas gracias Tía !! Si seguis con tantos elogios nos vamos a terminar agrandando ! je.
Abrazo gde!
diciembre 5, 2014 at 12:49 pm
Hola marianna y quique, me encanto sus relatos y fotos…siempre quedo con ganas de mas, me alegra y disfruto su experiencia con cada recorrido! Se cuidan estare pendiente de sus actualizaciones!
Saludos desde panamá
diciembre 8, 2014 at 3:29 am
Hola Yira ! Que lindo que nos escribas y sigas. Seguimos en contacto y esperemos poder pasar a la vuelta a verlos.
PD: A ese ritmo de competencia que andas en la bici, ni después de recorrer toda Centroamérica te vamos a poder alcanzar!
bsos
diciembre 9, 2014 at 1:12 am
Uds no se agrandan.son grandes pero no de orgullo sino de humildad y sapienza.no cambien nunca.te estoy conociendo de manera diferente Quique .que orgullosa estará abuela en el cielo del hermoso nieto q tiene.los tres claro no?? Bss
diciembre 11, 2014 at 3:26 pm
Sapiencia q horrible como escribí estaba mirando medio dormida.