20 de janeiro de 2015 – (Guatemala)

Ubicación mapa: punto 66

Nossa saída de Antigua Guatemala estava sendo adiada pelo fato de ser um lugar muito especial. Mas enfim, depois de dias muito agradáveis seguimos nosso rumo até a famosa Panajachel (Pana) no Lago Atitlán.

De férias das bicis, nosso transporte agora era uma van e nós junto com Maria e Luis (mãe e pai de Quique) só observamos o caminho até Pana. Imaginando que não seria muito fácil fazer este trajeto de bicicleta já que eram subidas e descidas grandes com curvas e mais curvas! Cansava só de olhar! Livrávamos-nos no momento, mas sabendo que dentro de umas semanas seria esta a nossa rota, em duas rodas!

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Inclusive assistimos um cortejo para um funeral de indígenas da região.

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Depois de umas 3 horas de viagem, tontos de tantas curvas, chegamos ao nosso hotel em Panajachel, a cidade mais turística da zona do lago com muitas opções de alojamento, restaurantes e artesanatos.

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Estávamos curiosos para ver de perto este lago místico dos maias.

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Já as primeiras imagens ficaram com nossas palavras, e por alguns segundos nossos corações se aquietaram por tamanha beleza. O lago com os três vulcões no fundo era uma maravilha indescriptível !!!

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A localização dos povos ao redor do lago refletem na natureza dos maias. Pois está todo ordenado como uma representação visual do mundo como conheceram os nativos de aí. O mundo está situado no centro da árvore da vida que divide o espaço físico e tempo. E esses diferentes povos na volta do lago foram fundados em pontos cardeais, começando com Santiago e indo até o Cerro de Oro e assim nessa ordem os doze povos (cada um com o nome de de um apóstolo) que falam em línguas maias kakchikel, quiché ou tz’utujil.

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No primeiro dia ficamos em Pana mesmo, tratando de caminhar pelo povoado e admirando a beleza do lago Atitlán.

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E também provando as granizadas ou raspados, que são uma espécie de sorvete. Cada carrinho tem sua própria máquina que tritura o grande pedaço de gelo, e que após é acrescentado o xarope.

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No pátio do hotel onde ficamos hospedados, uma parte de nossos desayunos ali estava. Com um chafariz bem ao centro e na volta diversas árvores frutíferas. As da época eram o zapote (sapoti) e a nêspera(ou ameixa amarela, no sul do Brasil). Assim que de fome não morreríamos!

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Mais tarde em um café bar vimos uma quadrinho com toda variedade de frutas da região!

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E ainda uma vendedora de bananas nos brinda essa foto…

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Neste mesmo dia já começamos averiguar como seria para conhecer os povoados em volta do lago, sendo que a maioria destes, só tem acesso através do lago. Averiguamos duas opções: pagar por cada tramo que fizéssemos (que sairia mais em conta, mas ficaríamos presos a horários)ou pagar um dia inteiro um barco que nos levasse aos povos que escolhêssemos.

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Por 125 quetzales (uns 15 dólares) nossa opção foi a segunda, e no outro dia cedo da manhã já estávamos no trapiche prontos para navegar neste sagrado lago dos maias.

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Uma das características próprias do lago Atitlan é o vento forte conhecido comoXocomil. Explicava-nos Juan, o motorista do barco, que este nome vem das vozes dos cakchiqueles Xocom. De jocom que significa recolher e il, pecados, ou seja, “o vento que recolhe os pecados” dos habitantes dos povoados situados na orla do lago.

Como era cedo da manhã não entendemos muito essa fama, já que a água estava tranquila e nada de vento. Daí veio a explicação que este vento sempre acontece depois do meio-dia, quando os ventos quentes vem do sul e chocam com as massas de ares frios do Altiplano, formando redemoinhos que agitam as águas convertendo as em ondas muito fortes. Isso veríamos na volta do passeio…

 

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Estando no meio do lago realmente é uma paz e tranquilidade tamanha. Só de ver ao redor estes vulcões e toda natureza ali rodeada nos fez agradecer por estar ali neste momento, com pessoas especiais e num lugar, sem parecer ser clichê, mágico!

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Nosso primeiro destino foi Santiago de Atitlan, o maior povoado do lago. E um pouco antes de chegar nos surpreendeu a simetria das montanhas e vulcões com a água!

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Chegando a Santiago vimos que éramos alvo de vários guias neste um pouco abandonado pier. Eram uns 5 no mínimo que queriam a “nossa companhia”, caminhamos uns metros mais e resolvemos ser acompanhados por Miguel, indígena maya tzutujil que tinha muita coisa para nos ensinar e mostrar.

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Vimos que o nível da água tinha subido muito nos últimos tempos, pois muitas casas estavam de baixo d’água. Diz a lenda que durante 5 anos as águas do lago sobem, já nos próximos 5 é vez de baixarem os mesmos metros que haviam subido antes.

O município é voltado para o turismo, cheia de lojas e restaurantes esperando os visitantes. Em cada passada era um olhar fixo e ao mesmo tempo distante …tanto nossos como deles…coisa que não estávamos acostumados em geral na viagem, más era compreensível por ser esta uma zona super turística. Porém essa pena nos acompanhou e se misturava com a beleza que exala esse lugar.

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Ruas estreitas, confusas, cheias de tuc tucs, vendedores, turistas, cachorros… um caos admirável!

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A vestimenta de toda região é um espetáculo a parte, cada etnia e localidade tem sua roupa típica. De Santiago são os tz’utujils. As mulheres vestem seus huipils(blusa bordada) coloridos com flores, aves e figuras geométricas. O corte é a saia, ou seja, um tecido liso que é envolvido na cintura das mulheres. E o mais típico de Santiago é o tocoyal, uma fita enrolada na cabeça parecido a um chapéu, que está estampado na moeda de 25 centavos de quetzal.

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Já os homens, assim como Miguel, usam seu chapéu, e sua calça curta branca com listras.

Depois de uma subida empinada, chegamos até o parque central. Um pouco antes nos deparamos com uma maquete do lago e de seus municípios em volta, onde Miguel nos explicava a localização dos vulcões, montanhas e povoados.

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A praça é um lugar espaçoso, rodeado pela igreja, escola e edifícios públicos. Com estes sorrisos fomos recepcionados…

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A igreja de Santiago de Apóstol foi construída em 1547 e é uma das mais antigas da região. Eu (Mariana) particularmente não gosto de visitar igrejas e fiquei nas escadas de pedra esperando quem quisesse entrar.

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E nisso aparecem umas mulheres para vender seus huipiles. Eram lindíssimos! E me arrependi de não ter levado pelo menos um… Mas daí vinha aquele pensamento: um huipil, menos um dia de viagem!

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Maria que estava junto não resistiu ao encanto dessas descendentes maias e acabou levando um huipil. Como nos divertimos com duas senhoras e uma de suas filhas. Falavam seu próprio idioma e não entendíamos nada. Perguntaram se éramos mãe e filha, ao dizer que éramos sogra e nora cochicharam mais uma vez e queriam saber onde estava o filho. Ao apontar para Quique riram de novo e a mais nova chegou até a ficar vermelha. Depois de muito insistir, descobrimos o motivo das risadas: a mais nova tinha achado o Quique bonito, e isso lhe causou uma vergonha imensa!!

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Enquanto conversávamos, ao nosso lado começava o recreio das crianças e o futebol era o motivo da movimentação dos pequenos.

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Algo que reparamos em todo país foi a importância da religião para as famílias. Uma mistura de cristianismo e suas tradições ancestrais maias conservadas desde muitos séculos. Nesta igreja, por exemplo, o interior está repleto de santos católicos, homenagens a vítimas da guerra civil e outros santos vestidos com roupas típicas. Mostrando um sincretismo que se vive nestas populações que foram bombardeadas com evangelizações trazidas da Europa, que quase acabou com suas crenças e tradições de seus próprios deuses.

Outro exemplo deste sincretismo, é o Maximon. Quando Miguel disse que nos levaria para visitar este símbolo de Santiago confesso que não tinha muito ideia de onde ele estaria nos levando. Luis e Maria não quiseram nos acompanhar e ficaram pela praça.

No caminho, Miguel introduzia para gente um pouco o que seria o “abuelos de los mayas“. Esta divindade maia não mora nas igrejas (inclusive é acusado de satanás por algumas Igrejas católicas), mas nas casas de família. A cada ano muda de moradia, numa espécie de  revezamento entre as pessoas locais selecionadas para receber o ilustre visitante. Os anfitriões ganham certo status (e dinheiro) por tê-lo em suas casas e a um certo mistério para revelar onde está. Por isso a única forma de chegar até ele é perguntando aos locais, pois não está em nenhum guia turístico a localização.

Depois de passar por diversas ruas e becos chegamos a uma simples casa com uma porta aberta.

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Inexplicável, mas me senti muito mal neste lugar. Capaz que não estava preparada para esta visita, só sei que fiquei dois minutos dentro da sala e tive que sair.

Um ambiente escuro, um incenso forte, um busto de madeira com várias gravatas, com um charuto e bebidas alcoólicas na sua volta, com dois guardiões e um caixão ao fundo.

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Rilaj Maam, Maximón ou San Simon é mais que um conceito espiritual que nos leva aos antepassados dos maias. Há várias hipóteses para seu nome. Uma delas é que vem da união de Max (tabaco em maia) y San Simon (santo católico protetor de magos y bruxos).

Maximon é um santo ou deus de carne e osso, parecido como os humanos, ele fuma, bebe, gosta de perfumes, troca de casa cada ano e dizem, tem duas esposas…Os fiéis, como trocas de favores, lhe dão charutos, cachaça, e dinheiro.

Dinheiro que também os “guardiões” cobram . Tem preço diferenciado para entrar, tirar fotos ou gravar vídeo. “Maximon gosta de dinheiro e nos também” , dizem.

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Aqui está o Maximon com sua guarda permanente. Ele é feito de madeira da árvore tzatel.

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Justo encontrei um gato na entrada da casa e ali fiquei com o bichano enquanto Quique e Miguel estavam dentro da peça com Maximon. Não sei por que, mas creio que minhas energias foram ao piso quando entrei neste lugar e ao encontrar este felino me revigorei novamente.

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Não se trata de um santo, na verdade é complicado de explicar. Seria como um espírito que demonstra  uma canalização do corpo e alma.

Após a visita, seguimos para a praça para reencontrar Luís e Maria e assim nos dirigir ao barco que Juan nos esperava para seguir a navegar pelo lago.

Na passada, seguia aquela mistura de cores, pessoas e vida. Compramos umas mangas, bergamotas e bananas para seguir o caminho.

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Despedimos-nos de Miguel e seguimos até São Pedro La Laguna, e no caminho foi um silêncio só. Creio que essa visita ao Maximon nos balançou e nos aquietou um pouco.

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Chegamos a São Pedro La Laguna e estávamos com muita fome. Procuramos algum lugar para sentar, queríamos algo mais afastado das ruas principais pois geralmente estes são pontos mais turísticos e também mais caros.

Como não queríamos nos estender muito, acabamos escolhendo o lugar mais perto do pier, com uma vista privilegiada.

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Eu e Quique seguimos um pouco mais pelas ruelas e encontramos um local que vendia falafel e água de coco. Foi a nossa salvação, a fome era tanta que devoramos até a polpa do coco!

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São Pedro é conhecido por ser um dos povoados mais escolhidos por viajantes estrangeiros para vender artesanatos, estudar espanhol ou simplesmente ficar uns dias para desfrutar o lago. Por ter preços mais acessíveis e ser um lugar tranquilo.

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Ficamos umas horinhas na frente do lago, apreciando a vista e saboreando nosso banquete regado a água de coco para uns e cerveja Gallo para outros.

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Bem na nossa frente tínhamos a vista do “nariz do índio”, a montanha que se observada por um ângulo desde San Pedro, pode-se notar uma ponta salientada que na imaginação dos locais seria a de um índio de perfil.

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Já estávamos no meio da tarde e ainda faltava mais um povoado para conhecer, foi uma passada rápida que não pudemos nos aprofundar mais e tampouco ter contato com locais. E, além disso, me faltou ser batizada pelo lago em um salto desde uma plataforma que fica mais acima da montanha… Ficou para próxima visita!

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Já no caminho, Juan nos contava que há uns anos atrás estiveram muitos arqueólogos pesquisando uma cidade submergida no lago. Tratava-se deSamabaj, um centro cerimonial maia que foi inundado a centenas de anos atrás. O sítio, descoberto em 1990, estava a 500 metros da beira do lago, e logo ficou coberto pela água. Nesses últimos anos foram encontrados várias cerâmicas ornamentadas que correspondem ao período Pré-clássico maia. Uns chamam de a Atlântida Maia.

Saindo de São Pedro já começamos a sentir os efeitos do Xocomil, o tempo havia se fechado e as ondas começavam a balançar o pequeno barco.

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Estacionamos o barquinho com dificuldade no trapiche de San Marcos e seguimos caminhando. Na verdade, nos primeiros metros já sentimos que neste lugar tinha um ar diferente, algo místico e mais leve.

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Tratava-se de um refúgio de estrangeiros em busca de espiritualidade, yoga, reikie centros de retiro espiritual. Um lugar tranquilo, com poucas pessoas e com bastantes áreas verdes.

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Tivemos apenas tempo de dar uma volta ao centrinho e logo sentimos as primeiras gotas de chuva seguidas de um vento forte. Era um aviso que deveríamos seguir adiante, o Xocomil ia mostrando a cara.

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Tal qual, a volta até Panajachel foi bem aventurada. Com ondas altas, vento e chuva o resultado não seria outro que se não os quatros empapados, com frio e ainda enjoados do balanço da pequena embarcação.

De volta ao hotel após um banho quente nos organizamos para comer algo e programar nosso próximo dia.  Afinal resolvemos nos separar nesta programação, uns para feira de Sololá e outros para Chichicastenango.

Ficaríamos ainda com nossa base em Pana, assim que nossa despedida da cidade ainda seria para o outro dia.

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