12 de dezembro de 2014 (El Salvador):

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Nosso destino não era a Praia La libertad, e sim era apenas um ponto de encontro com Fernando, nosso anfitrião de Santa Tecla.

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Chegamos cedo pela manhã e resolvemos ir até o fim do Malecón (calçadão na beira da praia). Como sempre andar passeando com as bicicletas no meio de muita gente não é muito agradável, até que resolvemos achar um cantinho para desfrutar da praia.

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Boa parte do calçadão é rodeada de restaurantes de frutos do mar, onde os pratos típicos da praia são: coquetel de camarão, ostras e ceviche.

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Mas como nosso pressuposto não dava para este luxo, ficamos com um “desayuno” com arroz e feijão, banana e abacate para dividir entre os dois.

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Enquanto andávamos nas bicicletas para um senhor com sotaque italiano em uma camionete. Nos pregunta se necessitávamos informação. Depois diz que é dono de um importante restaurante da zona que fica na beira da praia e oferece lugar para passarmos a noite de graça. “Gosto de ajudar a quem anda como o Che Guevara nos fala”. Agradecemos o gesto, mas já tínhamos onde ficar.

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Depois de um breve conhecimento da zona, fomos ao encontro de Fernando no local estabelecido. Chegou ele e seu companheiro de trabalho em uma camionete, colocamos nossos dois transportes na carroceria e rumamos a Santa Tecla, onde fomos recebidos por sua família. Em 20 minutos estávamos lá. Poupamo-nos cerca de duas horas de pedalada já que o caminho era quase todo de subida.

E afinal como o conhecemos? Mais uma vez a viagem nos deu uma grata surpresa, Fernando é muito amigo de Carol, lá da Costa Rica. Eles são apaixonados por montanhismo, escalam diversas montanhas em vários lados, principalmente os vulcões. Estivemos com ela alguns dias no começo da vigem e logo nos passou o contato do Fernando, para que quando chegássemos por El Salvador ele pudesse nos ajudar e mostrar um pouquinho do que esse país muito tem pra ser conhecido. Mas não esperávamos tamanha recepção. Com certeza, esses dias que passamos com eles foram inesquecíveis pela atenção, carinho e todo tempo estado com a gente. Tanto que foi a família que mais dias ficamos durante toda viagem!

Fernando vive em Santa Tecla (cidade metropolitana que fica colada com a capital San Salvador) com sua mãe Violeta e com suas duas cadelinhas: Puchi e Tita. O primeiro que nos chamou atenção quando chegamos a casa foi esta plaquinha feita em homenagem à cachorrinha Bibi que viveu 16 anos com eles, e alguns anos tinha falecido. Um belo gesto de amor e recordação à companheira de quatro patas.

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Um detalhe foi que toda vez que chegávamos na casa, vinha Puchi nos dar boas-vindas com uma folhinha seca das árvores do jardim.

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Uma das coisas que tínhamos pendentes para fazer em San Salvador era ir até o escritório de migração para renovar nosso visto, já que nos restava só uma semana de permanência no país.  Chegando lá não imaginávamos que houvesse tantos detalhes para conseguir essa prorrogação do visto. Além de 25 dólares de cada um, tínhamos que ter um responsável salvadorenho durante nossa estadia no país! E isso só foi possível por toda disposição de ajudar-nos de Violeta e seu ex-marido Rolando, que mesmo cheio de afazeres se dispuseram de levar-nos de carro e ficar com a gente no escritório assinando papéis e acompanhando todo processo. No final deu tudo certo e tínhamos mais 60 dias para ficar em El Salvador e Guatemala.(O visto de permanência serve para os países do G4: Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala).

Santa Tecla foi uma cidade que nos surpreendeu pela segurança, já que desde que entramos no país tínhamos receio de transitar tranquilamente pelas ruas à noite.  Tanto que na primeira noite Fernando nos chamou para conhecer um pouco da vida noturna da cidade. Fomos com seu primo ao Paseo del Carmen, local conhecido por ser boêmio com vários bares, restaurantes e boates da cidade. E que apesar de ser uma quarta-feira tinha bastante gente, boa parte estrangeiros. Depois seguimos até outro lugar, chamado Cafetalón, também com muitos bares, mas com gente local. Pedimos uma cerveja salvadorenha “Pilsener” enquanto de fundo tocava “Vilma Palma e Vampiros”
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Isso da segurança foi algo relativamente perplexo para nós, sentíamos essa tranquilidade, mas ao mesmo tempo víamos ruas fechadas por portões e grades, seguranças particulares que restringem o acesso de pessoas que não são moradoras da rua. Ou seja, fazendo de suas residências prisões em plena cidade e com bastante naturalidade. Além de que em qualquer negócio, por menor que seja tinha um segurança com uma escopeta vigiando o ambiente.

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No outro dia pela manhã caminhando pelo bairro enxergo dois cachorros da raça Sheep dog ou pastor inglês, nos quais eu sou apaixonada (principalmente por assistir quando criança a TV Colosso, programa no qual um dos personagens era a Priscila, uma cachorra vaidosa desta mesma raça). Chego à casa de Violeta e comento com ela, e aí descubro que sua dona é sua amiga há anos, e é como irmã! Chama-se Dóris é a “mãe” de Luca e Olive, pai e filho (os cachorros) cujo último foi resgatado de maus tratos de seu antigo dono. A diferença do antes e depois do Olive é emocionante. Como tanto amor e dedicação o deixaram tão vivo!

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Nesta mesma noite, Dóris e sua filha Alessandra foram jantar com a gente. E para nossa surpresa Ale preparou um molho branco delicioso que nos fez lembrar o gostinho da “salsa blanca uruguaya”. Depois soubemos que Ale mora há 1 ano e pouco em La Plata fazendo sua pós e aí aprendeu a fazer esta receita tão simples mas ao mesmo tempo tão acolhedora nesse momento para nós. (Como é possível se sentir mais próximo de seu lugar estando a milhares de quilômetros apenas com um paladar familiar).

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Foi com Alessandra que conseguimos um pouco de erva-mate. Após alguns meses sem saber o que era um chimarrão, tivemos esse gostinho novamente. E resolvemos colocar na roda literalmente, fazer com quem ainda não tinha provado saber o que era esse gostinho amargo que tanto amamos. E a reação não foi das melhores…

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Creio que eu escapei de ser registrada fazendo uma cara parecida ao provar o famoso “shuco”. Buscamos em alguns lugares mas atualmente ele é feito por poucas pessoas e em Santa Tecla uma das mais tradicionais é a Dona Teresa . Fomos provar e realmente não pude tomar (isso que sou bem aberta para novas experiências gastronômicas), sorte que o Quique manda ver em todas e não me decepcionou, e deixou o porongo vazio!!

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Um tempero que tivemos que nos acostumar foi o “alguashte”, em toda comida lá estava ele. Um pozinho verde extraído da semente de abóbora que servia de toque no shuco e em vários pratos típicos também.

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Falando em comida, um lugar que não poderíamos deixar de ir era o Mercado Público de Santa Tecla. Já de fora se via toda movimentação, variedade de cores e sabores em extrema intensidade!

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Acabamos indo várias vezes, mas uma em especial fomos com Fernando provar a famosa Sopa de Pata. Em um lugar simples, cheio de gente, mesas próximas uma das outras e muita informalidade, recebemos a cumbuca recheada de ingredientes.

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Caminhando pelo mercado encontramos muitos mundos, diversidade de cores, cheiros e sabores. E no meio de toda esta mistura a religiosidade nunca era deixada de lado, pois havia um lugarzinho para o altar da Santa Tecla de Iconio, padroeira da cidade.

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Antes de deixar o mercado municipal, Fernando ainda queria comprar camarões para fazer um ceviche a noite.

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Com a ajuda de sua avó Luísa, passamos a tarde descascando camarões com essa divertidíssima companhia. Dona Luísa tem muitas histórias para contar, que iam desde sua infância até quando foi ilegal para os Estados Unidos. Contava que sempre foi independente, foi para lá para saber se realmente se adaptava a viver longe de todos e afinal acabou voltando depois de uns meses.

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Na casa deles sempre havia reuniões, juntava-se gente e isso fazia que nos sentíssemos ainda mais integrados, convivendo com seus amigos e familiares.

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Como era época de Natal, toda cidade estava enfeitada e com diversas atividades.  No parque El Cafeton acontecia um encontro de cantores e dançarinos nacionais e da Nicarágua. Foi aí que conhecemos esse que é como se fosse um hino para todo salvadorenho. Pelo venezuelano Ali Primera em 1983, “Sombreo Azul” (Dale salvadorenho).

À noite sempre escutávamos algumas crianças na rua cantando. Eram as pastorelas ou posadas, rituais populares celebrados em vários países da América Central e México. Durante os nove dias antes do Natal (16 a 24 de dezembro), crianças e adultos recordam a peregrinação de Maria e José desde sua saída de Nazaré até Belém, onde buscam um lugar para se alojar e esperar o nascimento de Jesus.

Em um dia voltando para casa, Violeta nos convida para acompanhar esta celebração. Cada grupo é responsável por certas ruas dos bairros e vão revezando casas dos moradores para receber o cortejo. Os donos das casas após a cerimônia de canto e representação convidam a todos com algum alimento e bebida.

Violeta é uma pessoa apaixonada pela vida, pelo seu trabalho no Museu de Arte, pela sua família e suas flores, em especial as orquídeas! Onde tinham um lugarzinho especial em sua casa, que para gente também se tornou um refúgio para ler, escrever e sacar roupa.

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Um dia conhecemos Rene, um amigo de infância de Fernando que é um apaixonado por bicicleta, participa de várias competições e inclusive está sempre entre as primeiras colocações de mountain bike.

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Bem cedinho da manhã fomos colocar as bicicletas para funcionar depois de uns dias estacionadas. Rene era nosso guia e fomos até o Eco Parque El Espino, um lugar de treinamentos para esportistas e também para passear e observar as lindas vistas para a cidade de Santa Tecla e San Salvador.

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Também desde aí vimos um rombo na Cordilheira do Bálsamo, que depois soubemos que foi por conta da tragédia do terremoto de 2011. O bairro “Las Colinas” foi surpreendido por uma avalanche de terra da cordilheira, encobrindo mais de 200 casas e vitimando muitas pessoas. Foi o chamado “sábado negro”.

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Foto: http://archivo.elsalvador.com/vertice/2003/120103/deportada.html

No meio de tanta beleza natural encontramos várias trabalhadoras em meio aos cafezais. Vimos que estavam com seus cestos ainda pela metade e logo puxamos conversa. Eram 4 salvadorenhas que já estavam 2 horas na colheita do café, mas como a época não era favorável o serviço ficava mais duro. Contam que para encher a cesta de café precisam de umas 4 horas para receber 1 dólar por cada cesta cheia.

Queriam que tirássemos uma foto com elas e nos pediram para ter uma foto para cada uma. Dias depois revelamos as fotos e pedimos a Rene que as deixassem com o guarda-parque para Sandra, Fátima, Julia e Maria.

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Chegando até outro mirador, andamos uns metros e vimos uma pequena área de terra de onde se via sair vapor. Estávamos no “El Infiernillo”, sentíamos o chão quente e de perto sentimos o vapor vulcânico saindo da profundidade da terra.

Rene ainda tinha que trabalhar este dia, assim que apuramos o passo não antes de passar por um buffet de café-da-manhã! Com pupusas, “pamonhas”, arroz e feijão, horchatas e café direto do cerro onde tínhamos acabado de voltar.

Curioso este detalhe: “Não pentear-se nessa zona, por favor”! Nunca imaginei que no buffet poderia ter gente que se penteia. A explicação é que as pessoas ao tomar café-da-manhã saem apuradas antes de ir ao trabalho e vão se arrumando ali mesmo.

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E ainda nos apresentou para o pessoal da Sapo Bike que nos ajudou na manutenção da bicicleta.

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A noite muitas pessoas de Santa Tecla aproveitam para ir as praias perto de La libertad, com a conhecida El Tunco.  Famosa por ser um lugar para surfistas, a praia também oferece uma oferta de hostels e festas para viajantes.

Na beira da praia em volta da fogueira nos perguntávamos por que o nome do lugar. Fernando apenas ascendeu uma lanterna em direção ao mar e nos mostrou um amontoado de rochas que segundo ele tinha formato de “tunco”, ou seja, na linguagem salvadorenha conhecida pelo nosso porco. Mas foi muita imaginação para sair daí o nome…

Foto: http://mas.sv/mas/articulo.aspx/75355/9571391/viste-los-memes-de-la-playa-el-tunco#ad-image-0

Foto: http://mas.sv/mas/articulo.aspx/75355/9571391/viste-los-memes-de-la-playa-el-tunco#ad-image-0

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Esta foi nossas últimas foto com os Renderos Rodriguez no dia que finalmente conseguimos seguir nosso caminho, mas as histórias não acabam por aqui. No próximo post seguirá com esta linda família que cada dia nos surpreendia com toda sua forma de viver e contagiar as pessoas.

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