Chimaltenango, 12 de febrero de 2015

Foram muitos dias na capital guatemalteca, até que uma hora tínhamos que seguir adiante e enfrentar a estrada novamente.

Nosso destino dessa vez foi por acaso, pois justamente uns dias antes de partir, visualizamos nas redes sociais que Akiko (mochileira japonesa que conhecemos na Nicarágua) tinha alguns amigos em Chimaltenango , localizada a 52 km de onde estávamos com Elisa. Logo entramos em contato com Akiko, e já tinhamos uma família que nos hospedaria pelos próximos dias.

Após uma super carona que nos deu Elisa (foram alguns kms de pura subida e muito trânsito pesado), o trajeto seria bem tranquilo. Fomos pedalando pela CA1 e quando vimos já havíamos chegado a Chimaltenango, uma cidade de uns 40.000 habitantes.

Perguntando, econtramos a Pradera, un supermercado que ficava perto de onde iamos a ficar. Logo, nossa  missão era encontrar a casa. Segundo Akiko, nosso anfitriões moravam em um lugar que tinha escrito Kalimax. Não pensamos duas vezes e saímos a perguntar perto das indicações que nos deram, onde era a loja, comércio ou restaurante assim chamado.

E pra nossa decepção ninguém conhecia o tal lugar e tampouco nos respondiam às mensagens de socorro.

Eis que surge alguém correndo em nossa direção! Era Lena, com seu sorriso no rosto, sua saia colorida e um abraço muito caloroso nos indicando por onde era o caminho.

Dias depois falando com Lena, indigena maya, le perguntamos se tinha facebok ao que ela respondeu: “não tenho tempo para isso, minha vida está lá fora”.

Ao chegar na frente da casa e vermos  como estava escrita a nossa referencia, nos matamos de rir, pois tínhamos imaginado um banner como os de Mc Donald´s.

Depois soubemos que KALIMAX quer dizer : “Calidad Máxima” !! 

Neste tão hospitaleiro lar, morava  Lencho, Lena (Suk jaja) e Thelma junto com os bichanos Skokie (e seus 14 anos de puro companheirismo com seu dono), Pituka e Pirulina.

De primeira já vimos que ali era um lugar de uma energia única. Cada um dos três tinham personalidades muito diferentes e ao mesmo tempo conviviam em pura harmonia.

Lencho e Eddie acabavam de chegar de uma caminhada de 4 dias pela selva de Peten, para chegar em el Mirador,  o maior sitio arqueológico maia , descoberto a poucos anos. 

A casa parecia um hostel, já que todo amigo era bem-vindo. A sensação era que sempre as portas estavam abertas para os amigos de anos ou aos novos visitantes, que aliás eram recebidos e tratados como os primeiros.

Uruguai e RS ali raspados no Scratch map

Já pela noite fizemos uma juntada, ia chegando um depois outro e quando vimos a casa estava cheia!

Quique se encarregou da pizza, Lena e Thelma da comida também. Já as bebidas por conta do Lencho, Maribel e Andy (que logo se mudariam a Alemanha) se organizavam para fazer a mesa. Trabalho em equipe!

Lena fez um molho de sua especialidade e quando perguntamos se era muito picante ela respondeu: “pica lejanito”, jeje Bela resposta para dizer que era suave, só que o suave dela era fortíssimo para nós!

Eddie fez um creme de abóbora e a receita está  no link: https://acercandomundos.com/receitas/

Entre cremes, pizza, vinho e cerveja, era tarde da noite e aí estávamos…

A música que estava na moda esses dias foi el baile del serrucho !

Lencho enzinando para gente a coreografia :D

Lencho ensinando a coreografia 😀

Era época de carnaval, e enquanto a gente só queria saber de sossego, os guatemaltecos  celebravam essa festa com cascarones de Carnaval (cascas de ovos recheadas de papel picado), jogando-os uns aos outros.

Na televisão, que creio que fazia meses que não assistíamos, passava a reprise do carnaval do Rio na Sapucaí. Logo de sentir a nostalgia do carnaval carioca, paramos para voltar no tempo com “Vale a pena ver de novo”  e a Pedra sobre Pedra. Não podíamos acreditar que a novela que  foi transmitida em 1993 ainda estava clara na nossa lembrança, e sabíamos  o que Jorge Tadeu ia dizer na cena!

Quando o sol baixava saíamos para dar uma volta na cidade, caminhar pelas ruas e visitar o mercado municipal.

Em San Andrés de Itzapa, Lencho nos comentou que tinha um amigo que tinha um projeto muito interessante no qual transformava bicicletas em máquinas para uso da sociedade. Ficamos curiosos e fomos conferir.

Com um calor muito forte, pedalamos os 8 quilômetros que separavam Chimaltenango de San Andrés. No caminho se via os campos secos, pouco movimento e os tradicionais lavadeiros coletivos.

Chegando em San Andrés de Itzapa, fomos atrás do contato que tínhamos: Carlos Enrique Marroquin. Um senhor de 40 e poucos anos no qual tinha sido percursor deste tipo de trabalho na região.

Após não encontrá-lo em sua casa, conseguimos outro endereço onde ficava a oficina de trabalho das bicimáquinas.

Depois de apresentarmos  a Carlos, ele fez questão de nos mostrar todos procedimentos e sua equipe de trabalho. Que contava com estrangeiros de vários lugares que faziam um intercâmbio de conhecimentos.  Entre eles, Surian, um carioca que esteve um tempo com Carlos e hoje em dia tem seu atelier e realiza projetos parecidos em comunidades no Rio de Janeiro.

Trata-se de uma tecnologia barata, de fácil manutenção e que não requer energia elétrica. Estamos falando em bicimáquinas para: debulhar o milho, moer café, lavar roupas e ate fazer de liquidificador, entre outros.

Carlos nos contou que ele era caminhoneiro mas que sentia que não estava dando ao mundo seu melhor eu, então com o conhecimento de mecânica e os seus sonhos, começou a imaginar como ajudar seu povo, especialmente depois do fim da guerra civil em Guatemala em que muitas mães ficaram sozinhas com seus filhos para criar.

Carlos não tem estudos formais, talvez por isso, suas ideias não vem de nehum manual. Seus inventos lhe chegam diretamente dos sonhos, e enquanto dorme, aparecem as bicimaquinas. Depois ele só tem que ver como fazer na prática como executar.

A ideia dele é que a energia limpa e barata obtida pelas pedaladas possam chegar a todos que precisem.

Era 14 de fevereiro (exatamente 3 anos atrás!!) e para esta parte do continente não era o dia dos Namorados comum aqui na América do Sul e Norte, e sim o “dia do carinho”. Ou seja, era um dia para comemorar a amizade e o amor entre casais, amigos, família, etc. É uma forma mais democrática e abrangente de afeto, todo mundo tem com que celebrar e não somente quem tem um(a) namorado(a)! Parabéns Guatemala!!

 

Justo neste dia também, Thelma estava fazendo seu 37 aniversário. Decidimos ir até Antígua Guatemala passar a tarde e comemorar essa data dupla.

Ao som do “Baile do Serucho” voltamos a Chimaltenango e no dia seguinte já nos preparávamos para seguir a viagem.

Nesses dias fomos conhecendo um pouco da história de cada um. Realmente foram dias muito especiais para gente. Não apenas por toda hospitalidade na qual fomos recebidos, mas também por saber que pessoas de um enorme coração desfrutam de estar entre amigos e fazem questão de celebrar como se todo dia fosse o Dia Do Carinho.

Lencho e seu eterno sorriso de menino grande, contagiando alegria, tanta que até hoje continuam chegando de tanto em vez ecos de suas gargalhadas.

O que eram apenas 2 dias de hospedagem foram quase uma semana, e a saudade dura até hoje!!

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